Resistência a antibióticos na água que você bebe
Resistência a antibióticos é um dos principais problemas de saúde pública que o futuro nos reserva. Com o foco do mundo numa pandemia viral, às vezes problemas gerados por outros grupos de organismos vivos ficam em segundo plano, mas as bactérias resistentes a antibióticos são um problema cada vez mais real e latente. Casos recentes aqui mesmo no Brasil já evidenciaram que as chamadas "superbactérias" (bactérias que causam doenças e são resistentes a vários tipos de antibióticos conhecidos) podem se tornar um problema de grande impacto.
As principais superbactérias já encontradas estão associadas a hospitais, justamente pelo alto uso de antibióticos para tratar doentes e também pelo caráter oportuníssimo, uma vez que os pacientes hospitalares geralmente estão debilitados e, portanto, mais suscetíveis a desenvolver doença.
Mas e se eu dissesse que exemplares destas bactérias não são exclusivas de hospitais? Mais ainda, que você pode estar ingerindo uma superbactéria neste momento? Pois é exatamente disso que o texto de hoje vai falar.
Resistência a antibióticos é uma coisa intrínseca da evolução das bactérias. As mutações espontâneas por si só já poderiam causar esta resistência, mas a exposição cada vez maior a antibióticos na natureza acelera isso e, uma vez que uma espécie se torna resistente, as demais conseguem absorver esta resistência ainda mais facilmente.
E como isso chega até as nossas casas? Bom, você já deve ter tido que se tratar com antibióticos. Infecções urinárias, na garganta, recuperação de cirurgia e afins são bons exemplos de momentos em que tomar um antibiótico é essencial. E às vezes o antibiótico sobra. Ou a pessoa só não toma até o final. E o que acaba sendo feito com esse "restinho"? Lixo. Ou pior ainda: jogado na pia ou no vaso sanitário. E é aí que mora o problema. Estes antibióticos vão para o solo ou para o sistema de esgoto e entram em contato com uma variedade imensa de bactérias, patogênicas ou não. As bactérias estão tentando sobreviver, então elas acabarão adquirindo essa resistência, o que é ainda mais fácil em condições de baixa concentração de antibiótico. O resultado? Milhões de bactérias resistentes àquele antibiótico que você jogou na pia se difundindo pelos rios e cursos d'água em algumas dezenas de anos. Ou menos.
"Ah, mas existe tratamento pra água que chega até a gente." De fato existe, mas a maioria dos processos de desinfecção de água utiliza apenas compostos de cloro. Estes compostos, apesar de matar as bactérias, permitem que os genes de resistência permaneçam na água e possam ser incorporados por outros microrganismos. E não, a água que sai da sua torneira NÃO É ESTÉRIL. A regulamentação exige que ela esteja livre de bactérias que possam causar doenças. E só.
Todo cuidado é pouco. Não há necessidade de entrar em neura, mas sempre procure beber sua água filtrada e/ou fervida a fim de evitar maiores problemas. E lembre-se de cuidar com o que você faz com seus antibióticos não utilizados. Nunca se sabe de onde virá a próxima grande infecção.
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