E se o Sol não nascer amanhã?

Sempre que eu vou falar ou estudar Metodologia Científica uma frase que ouvi de um professor no começo da faculdade reverbera na minha cabeça. A frase era uma crítica ao determinismo e dizia que "o fato do sol ter nascido todos os dias não é prova suficiente de que ele vai nascer amanhã". 

Estes dias, numa das muitas crises existenciais que todos nós temos cada vez mais frequentemente nesse mundo pandêmico eu me fiz exatamente esta pergunta: e se de fato o sol não nascer amanhã? Como diria um certo personagem, "a gente vai morrer"? Ou haveria chance de sobrevivência? Quem ou o quê sobreviveria mais? Eu, Anderson, na condição de cientista, curioso e procrastinador, tentei montar uma ideia de mundo sem o astro-rei.

A primeira coisa que obviamente aconteceria é o pânico. Os despertadores tocariam para a população economicamente ativa e mais um belo e risonho amanhecer simplesmente não chegaria. Às 10 da manhã portais de notícias já começariam a discutir o que estava acontecendo. Teorias da conspiração surgiriam no Whatsapp e no Facebook. Controle do clima! Aquecimento global! Ataque militar! Mas nada disso será verdade. O mundo inteiro estará às escuras. E a maioria de nós dormirá (ou tentará dormir) sem saber o que aconteceu.

Os dias passarão sem luz solar. Os médicos recomendarão repor a vitamina D de alguma forma. O consumo de energia aumenta. Esforços para explicar o que aconteceu se expandem sem sucesso. A criminalidade também aumenta e talvez o senso de moral comece a se deturpar mais ainda. A ideia de que ninguém está olhando é cada vez mais forte.

Com o passar das semanas as plantas começam a morrer. Sem o sol não há fotossíntese. Sem fotossíntese não há comida para os animais e nós mesmos. Animais marinhos também não sobreviverão. Talvez alguns poucos adaptados ao fundo dos oceanos, mas mesmo estes acabarão sem alimentos. Há alguma chance para microrganismos quimioautotróficos, mas qualquer organismo que dependa de luz solar em algum nível da cadeia trófica acabará perecendo.

Quem sobreviverá? Talvez algum tardígrado, ou algum microrganismo extremófilo. São meus maiores palpites: organismos que naturalmente têm problemas maiores do que falta de luz e comida. 

Tudo isso soa utópico, mas vai acontecer. Demorará talvez alguns bilhões de anos e provavelmente nenhum ser humano estará aqui para ver? Provavelmente sim. E sinceramente, nós nunca estaremos preparados. Se realmente o sol não nascer amanhã, a única solução é correr. E não é para as planícies.


NOTA 1: Este texto é um surto pessoal do seu autor e não representa necessariamente a opinião do Biotec em Pauta nem tem qualquer compromisso com exatidão temporal, científica ou gramatical.

NOTA 2: Adorei, minha nota é 3.

NOTA 3: Dó.

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