É vírus ou protozoário? Quais as diferenças entre microrganismos e como combater os que causam doenças

Recentemente vimos no circo de horrores que sempre foi a política brasileira o questionamento sobre qual a diferença entre um vírus e um protozoário e o uso de antiparasitários para tratamento de uma infecção viral. O tema aqui não é política, mas nós gostaríamos de lançar mais alguma luz sobre isso explicando a vocês quais microrganismos existem por aí, quais os perigos deles e por que cada caso é um caso. Com vocês um resumão sobre microbiologia básica pra quem tem pouca paciência e dormiu nas aulas de biologia:

Bactérias

As bactérias são talvez os microrganismos mais famosos. Presentes em praticamente todos os ambientes, desde a sua boca até o fundo dos oceanos, passando pelo solo e por literalmente qualquer ambiente minimamente habitável, são organismos sempre unicelulares, sem núcleo definido (o DNA fica "solto" no citoplasma mesmo) e com uma parede celular composto de um açúcar denominado peptideoglicano. Essa parede é a grande sacada para diferenciar dois grandes grupos: gram-positivas (com uma parede grossa) e gram-positivas (com parede fina). O conceito é beeeeeeeem maior que isso, mas você não está aqui por precisão, certo? Então de grosso modo é isso. E o que isso muda? Bem, gram-negativas geralmente são mais patogênicas do que gram-positivas e mais propensas a adquirir resistência a antibióticos. Exemplos disso são a Helicobacter pylori (causadora de infecções intestinais) e a Chlamydia trachomatis que gera uma DST. Por outro lado, as bactérias gram-positivas incluem muitas espécies que podem ser benéficas, como os Lactobacillus usados para produção de iogurtes e que vivem no nosso intestino. Algumas também causam doenças, mas geralmente são doenças menos graves.

Como eu mato uma bactéria que me infectou?

Antes de tudo, calma. Nesse momento você tem mais bactérias do que células humanas no seu corpo. E tá tudo bem, elas são muito importantes para o seu corpo. Quando, e se, alguma invasora criar algum problema, aí sim você poderá precisar de um antibiótico. Geralmente eles são específicos para gram-positivas ou negativas e vão atuar justamente na quebra dessa parede celular das bactérias.


Fungos

Os fungos são um grupo de organismos bastante diverso em estrutura e função. Sabe o mofo atrás do seu guarda-roupa? É fungo. Sabe o champignon que você come no strogonoff? É fungo. Sabe a levedura que faz o vinho ou a cerveja que você toma? É fungo. Basicamente a ideia de fungo é uma célula já eucariótica (nesse caso com membrana envolvendo o DNA) e uma parede celular proteica de queratina, o mesmo material que tem nas suas unhas, por exemplo. Geralmente fungos degradam matéria orgânica onde estão e transformam ela em outra coisa que eles possam se alimentar. Por isso que quando algo apodrece isso se dá primariamente por ação dos fungos. Sim, aquela mancha preta no seu pão de forma que está há 40 dias ali é só um fungo se alimentando e crescendo. A maioria dos fungos não gera muitos problemas, exceto quando alguma espécie começa a adentrar onde não deve em nosso corpo. Aí a coisa fica feia e o tecido pode literalmente apodrecer. Às vezes de dentro pra fora. É o que está acontecendo com este novo fungo indiano que está em circulação. 

Como eu mato um fungo que me infectou?

Primeiramente, a mesma regra das bactérias vale pros fungos. Aliás, para quase todos os microrganismos aqui: calma! Apenas uma porção muito pequena dos fungos vai te causar algum tipo de doença. A ideia da maioria deles é justamente quebrar essa parede celular do fungo e enfraquecê-lo a ponto de destruí-lo.


Protozoários

O conceito de protozoários é talvez o mais simples de todos: seres unicelulares com núcleo que não fazem fotossíntese. Inúmeros exemplos são conhecidos, entre eles o paramécio, organismo que apresenta a menor "boca" do mundo animal. Muitos desses seres são de vida livre, como as famosas amebas, tão utilizadas para descrever pessoas sem graça e/ou desprovidas de raciocínio lógico. Mas alguns deles são parasitas de organismos. Parasitas mesmo, no mesmo balaio de lombrigas, pulgas, sanguessugas e afins. O mais famoso talvez seja aquele que atende pelo nome Plasmodium, o protozoário que causa a malária. Geralmente o ciclo de um protozoário parasita inclui se reproduzir em células do nosso corpo e às explodir para migrar para outras células e para fora do corpo para se replicar, o que casa 100% com os efeitos de cansaço, dores, fraqueza e afins que doenças assim causam.

Como eu mato um protozoário que me infectou?

Os antiparasitários internos, vulgarmente conhecidos como "vermífugos", atuam paralisando o metabolismo dos parasitos e fazendo com que este morra e seja eliminado pelo organismo.


Vírus

Finalmente chegamos a eles, os que estão na boca do povo atualmente por motivos óbvios. Vírus são organismos (Na verdade não, a discussão se vírus é um ser vivo ou não dá muito pano pra manga e eu não quero discutir aqui. Para fins didáticos só aceita que eles são.) que precisam de outro ser vivo para se reproduzir e se espalhar. Existem diversas classes de vírus, cada uma com características moleculares distintas, mas o que une todos eles é a ideia de material genético (que pode ser DNA ou RNA) envolvido por proteínas (formando o que se chama de capsídeo). Tem vírus que é literalmente só isso, enquanto outros têm mais coisas, mas é a mesma ideia. Qual o grande ponto? Vírus precisa infectar célula. Precisa ser célula humana? Não. Mas tem que ser de algo. Existem vírus que atacam bactérias, plantas, animais e, obviamente, humanos. Doenças como a Covid-19, a AIDS e a gripe são grandes exemplos do que um vírus pode causar. 

Como eu mato um vírus que me infectou?

Esta é a pergunta de todos os milhões de dólares do mundo. Como se mata algo que talvez nem seja vivo? Matar um vírus ou simplesmente inativar ele é muito difícil. Prova disso é que doenças como AIDS, herpes e até mesmo a Covid não têm um medicamente padrão para o seu tratamento. O fato de vírus se alojarem em lugares sensíveis do corpo, como neurônios, células de defesa ou até mesmo dentro do genoma torna isso ainda mais difícil. Os melhores tratamentos existentes são com medicamentos que atuam impedindo que os vírus se multipliquem no corpo, como é o caso do coquetel para o HIV, o Remdesivir para o Ebola e o Aciclovir para o HSV-1. São todos medicamentos denominados "antivirais" justamente por atuarem especificamente contra vírus.


Conclusões
Se você chegou até aqui, você deve estar mais esclarecido sobre como funciona cada microrganismo e como eles se comportam ao causar uma doença no nosso organismo. Existem outros grupos ainda como as microalgas, por exemplo, mas isso fica para outro post. O que nós gostaríamos que você saísse daqui sabendo é que cada tipo de microrganismo tem um mecanismo diferente de atuação e o tratamento é totalmente diferente do ponto de vista molecular. Se você quiser ir a fundo, deixamos aqui uma lista de livros e artigos que podem te ajudar:

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