CSI da vida real - Como a ciência ajuda a desvendar crimes

    Parado! Mãos ao alto! Tudo que disser poderá ser usado contra você! Sim, começamos este texto exatamente como uma prisão em uma série policial seria conduzida. E é nesse clima das grandes produções da TV que vamos te contar como a ciência pode ajudar a resolver crimes, tal qual vemos nas séries.

    Talvez você já pense em coisas como exames de DNA para paternidade ou para identificação de sêmen em casos de estupro, talvez análises para revelar sangue em cenas de crime e coisas assim. E tudo isso é verdade. Mas a ideia é ir bem mais a fundo: pegar aquelas ideias que parecem completamente improváveis, que só em filme faria sentido mas que são opções reais que podem de fato ser usadas numa investigação policial. Confira abaixo alguns exemplos de como a ciência evoluiu para auxiliar a polícia a desvendar crimes.


1. Cuidado onde você pisa

    O que você vê quando sai de casa olha pro chão? Asfalto? Terra? Pedras? Grama? Para pesquisadores australianos, a resposta é uma grande impressão digital do seu caminho.    Desde 2011 um grupo liderado pela geoquímica Patrice de Caritat tem somado esforços à Polícia Federal australiana e o Centro de Estudos Forenses de lá para mapear as características como pH, cor e textura dos solos de toda a Austrália para ter um banco de dados unificado e usual.

    A ideia dos pesquisadores é permitir que a polícia identifique com mais facilidade a origem de amostras de solo apreendidas em cenas de crime ou em atividades rotineiras. Com o trabalho destes pesquisadores, talvez se tornem comuns cenas à la Sherlock Holmes, em que o criminoso é pego pelo barro em seus sapatos. E quem ganha com isso é exatamente a sociedade.    

    Saiba mais: Soil maps help scientists dig up dirt in criminal investigations


2. Quando os cadáveres ainda falam

    Antes de tudo, isso não se trata de histórias clássicas da ficção como A Noiva Cadáver ou Um Morto Muito Louco. Mas poderia ser. O estudo de cadáveres, tão comum em séries policiais, ganhou um novo ponto a ser discutido nas últimas décadas, que pode falar muito mais do que uma boca viva: seus microrganismos.

    Um novo ramo de estudo com um nome bem complicado - "tanatomicrobioma" - é o estudo das bactérias, fungos e protistas presentes em cadáveres em decomposição. Pode parecer - e de fato é - meio nojento à primeira vista, mas é uma aposta dos cientistas para a determinação de uma das principais perguntas da polícia ao se deparar com um corpo sem vida: "há quanto tempo isso está aí?". 

    Mas há mais do que isso: estudos recentes mostraram não só que os microrganismos do corpo mudam ao longo do tempo como também diferem em idade, sexo e entre órgãos. Imagine uma cena em que apenas um braço é encontrado em alto estágio de decomposição. Uma caracterização dos microrganismos pode dizer se é um braço de um homem ou de uma mulher, jovem ou mais velho e morto há x dias. Ter posse dessas informações pode significar a diferença entre resolver ou não um caso. Vai um presunto aí?

    Saiba mais: Human Thanatomicrobiome Succession and Time Since Death


3. A química do bem

    Isótopos estáveis. Se você tem ensino médio completo, eu tenho certeza absoluta que o seu professor de química falou sobre isótopos. E mais certeza ainda que você não prestou atenção. Mas não tem problema. De forma resumida, isótopos são diferentes variações de um mesmo elemento químico. Existem carbonos de vários "pesos", por exemplo, e isso pode ser medido com equipamentos modernos. A diferença entre a quantidade de átomos "pesados" e "leves" é uma informação chamada de abundância isotópica e é uma característica específica de diferentes fontes.

    Ficou confuso? Vamos simplificar mais ainda: a abundância isotópica para o carbono em uma floresta é diferente do que o de uma pastagem; a abundância isotópica para o nitrogênio na carne de um animal criado em curral é diferente da de uma carne de caça ilegal. E é exatamente nessas diferenças que as técnicas trabalham. É possível rastrear a origem das mais diversas coisas utilizando técnicas razoavelmente simples.

    A união de dados sobre abundância isotópica de diversos átomos gera uma espécie de mapa de isótopos chamado de isoscape, que permite que as polícias possam trabalhar rastreando amostras suspeitas e chegar com mais precisão à origem delas.

    Saiba mais: Isótopos estáveis são verdadeiros rastreadores no trabalho da perícia forense

                        Átomos no Rastro do Crime


4. Os caminhos da droga

    Outro grande trunfo recentemente adquirido pela Polícia Federal Brasileira é o uso de DNA do cloroplasto de Cannabis sativa para rastreabilidade. Estudos recentes mostram que as sequências presentes nestas estruturas são hipervariadas e podem servir como base para descobrir, por exemplo, se a droga veio de fora do país ou foi produzida aqui.

    A mesma ferramenta pode ser usada para rastrear quaisquer outras plantras de interesse, como chás, e temperos, mais uma robusta ferramenta contra o contrabando não só de drogas como também de outros produtos.

    Saiba mais: Chloroplast DNA: A Promising Source of Information for Plant Phylogeny and Traceability

                        Whole Plastome Sequences of Two Drug-Type Cannabis: Insights Into the Use of Plastid in Forensic Analyses

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